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Ansiedade: Um Sintoma que Aponta para Algo Maior — A Visão Psicanalítica

  • aleexandraqueirozp
  • 20 de mai.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 1 de jul.


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Imagine uma pessoa que começa a ter febre. Ela pode tomar um analgésico e, por algumas horas, a febre passa. Mas logo volta — talvez mais forte, acompanhada de outros sintomas. Nesse momento, o que se faz? Vai-se ao médico, que examina, pede exames e procura entender a origem da febre. Descobrindo, por exemplo, uma infecção, inicia-se um tratamento que combate a causa, não apenas o sintoma.

        Na psicanálise, a ansiedade é a febre emocional. Um sinal claro de que algo dentro da pessoa não está bem. Pode-se aliviar os sintomas com técnicas, medicações ou distrações? Sim, claro. Mas se a causa não for compreendida, a ansiedade sempre volta. E, como a febre, pode retornar mais intensa, com novos sintomas e desdobramentos.

 

O que é ansiedade?

        A ansiedade é um estado emocional que se manifesta diante de uma situação de alerta, perigo ou expectativa. Todos nós, em algum momento da vida, sentimos ansiedade. E isso é natural. O problema começa quando esse estado se torna frequente, exagerado e sem causa aparente, dominando o corpo, a mente e os comportamentos.

        Na visão psicanalítica, a ansiedade é um sintoma que aponta para um conflito psíquico. Muitas vezes, o que causa essa angústia não está na consciência da pessoa, mas nos seus conteúdos inconscientes — desejos reprimidos, traumas não elaborados, culpas silenciosas, conflitos internos não reconhecidos. É como se o corpo gritasse o que a mente ainda não consegue compreender ou aceitar.

 

Sintomas físicos e emocionais da ansiedade

        A ansiedade excessiva afeta o corpo e a mente. Os sintomas variam de pessoa para pessoa, mas os mais comuns são:

Sintomas físicos:

  • Palpitações e batimentos acelerados

  • Falta de ar

  • Tensão muscular

  • Suor excessivo

  • Enjoo ou dor de estômago

  • Mãos trêmulas

  • Dificuldade para dormir

  • Boca seca

Sintomas emocionais:

  • Preocupação constante e irracional

  • Sensação de que algo ruim vai acontecer

  • Medo sem motivo claro

  • Inquietação

  • Dificuldade de concentração

  • Sensação de estar “fora do próprio corpo”

  • Cansaço mental

  • Irritabilidade

 

A quem a ansiedade afeta?

        A ansiedade não escolhe idade, classe social ou grau de instrução. Ela atinge:

  • Jovens: pressionados por desempenho, estética, pertencer a grupos, início da vida adulta.

  • Adultos: sobrecarregados por cobranças profissionais, responsabilidades familiares e desafios emocionais.

  • Idosos: que enfrentam medos relacionados à solidão, saúde e finitude.

Cada faixa etária manifesta a ansiedade de formas diferentes, mas o sofrimento é igualmente real e profundo.

 

O que a ansiedade pode estar sinalizando?

        Na psicanálise, a ansiedade é vista como um alerta do inconsciente. Algo dentro de você está tentando chamar sua atenção. Pode ser:

  • Um medo oculto de falhar ou de perder algo ou alguém.

  • Um desejo que você reprimiu por sentir culpa ou medo.

  • Uma dor antiga que não foi elaborada.

  • Um padrão repetitivo de vida que não faz mais sentido.

  • Um excesso de controle sobre tudo, por medo de se desorganizar internamente.

É como se a mente dissesse: “Algo precisa ser olhado com mais profundidade.”

 

Os prejuízos da ansiedade na vida da pessoa

        Quando ignorada ou mascarada, a ansiedade afeta:

  • Relacionamentos afetivos: gerando ciúmes, controle, insegurança, conflitos.

  • Vida profissional: procrastinação, baixa produtividade, medo de se expor, crises no trabalho.

  • Vida social: isolamento, dificuldade de confiar, medo de ser julgado.

  • Vida pessoal: sensação constante de esgotamento, perda de prazer, baixa autoestima.

A pessoa se desconecta de si mesma e começa a viver em função do medo, da evitação e do controle.

 

A medicação ajuda, mas não cura

        Sim, em muitos casos a medicação é necessária — principalmente quando os sintomas são intensos, com crises frequentes e incapacitantes. Mas o medicamento atua como o analgésico da febre: alivia o sintoma, mas não resolve a causa.

        A medicação pode trazer alívio e estabilidade, mas sozinha, ela não “cura” a ansiedade. E se usada por muito tempo sem acompanhamento terapêutico, pode gerar dependência emocional e física. A pessoa se acostuma a “funcionar” com a ajuda do remédio, mas permanece sem compreender o que está causando aquele sofrimento.

 

A psicanálise: o exame profundo da alma

        A psicanálise é como a investigação médica no exemplo da febre: ela busca a causa verdadeira do sintoma. O foco não é apenas “parar de sentir”, mas entender por que você sente o que sente.

        É um mergulho cuidadoso e respeitoso na história de vida do paciente. Através da escuta, da análise dos sonhos, dos atos falhos, das repetições e do discurso, o sujeito vai descobrindo o que estava encoberto — e, ao nomear, elaborar e compreender, o sintoma perde força, e a ansiedade vai, aos poucos, deixando de ser necessária.

 

Ansiedade é humana — mas o excesso é um chamado

        Sentir ansiedade em momentos importantes é natural. Mas quando a ansiedade se torna o estado predominante da vida, algo precisa ser olhado.

O que em você está pedindo ajuda?Qual medo, qual dor, qual desejo reprimido está querendo ser escutado?

        A ansiedade pode ser o início de um caminho de reencontro com você mesmo — se você aceitar o convite para escutar o que ela quer dizer.

 

Conclusão

        A ansiedade não é um inimigo a ser combatido. É uma mensageira. Ela não quer te punir, quer te mostrar algo. E, ao invés de silenciá-la com urgência, talvez seja a hora de escutá-la com profundidade.

        Se você sente que vive em alerta constante, que seus sintomas te impedem de viver plenamente, saiba: existe saída. O tratamento psicanalítico não é imediato como um remédio, mas é duradouro e libertador. Porque vai na raiz, e não apenas na superfície.

 


 
 
 

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Alexandra Queiroz - Psicanalista

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